Aprender a Rezar na Era da Técnica, de Gonçalo M. Tavares

FINALMENTE! Há séculos que andava para ler algo deste senhor e foi desta. A primeira leitura do ano. E que bela leitura!

Chegando ao fim deste livro há várias coisas que me passam pela cabeça. A primeira é o quão imprevisível foi. Começa a falar de Lenz, um médico cirurgião muito bom, extremamente eficiente que decide abandonar a política para ajudar as pessoas através da resolução de problemas da sociedade. Parece altruísta, não é? Pois claro que não, afinal o que lhe interessava mesmo era chegar ao poder, ao mesmo tempo que usava vários argumentos que justificassem as suas perspetivas meio egoístas ou egocêntricas. Depois disso os saltos na história continuam e quando achamos que sabemos qual é o rumo que a história está a tomar, percebemos que afinal não sabemos nada.

Outra coisa que gostei muito foi o facto de a personagem principal não cair naquele costume demasiado frequente de ter de ser boa pessoa, ou ter o seu quê de heroico. Pelo contrário, Lenz é uma personagem completamente desprezível, que despreza ele próprio as pessoas. Como médico não quer saber do sofrimento do doente, apenas cura pela técnica e pelo fascínio do poder que tem nas mãos.

No que toca à escrita, houve dois pormenores de que não gostei tanto. Apesar de o autor ter uma escrita muito interessante, usa demasiadas vírgulas e muitas vezes quebra a fluidez da leitura. Mas enfim, nada de grave. O outro pormenor não foi tanto o não ter gostado, foi mais o "primeiro estranha-se, depois entranha-se". E falo dos capítulos e subcapítulos: são extremamente pequenos - 2 a 3 páginas. Nem sei bem se gostei ou não, honestamente, mas foi algo que me chamou a atenção.

No geral, achei o livro absolutamente incrível e foi sem dúvida uma boa estreia de Gonçalo M. Tavares. O próximo na lista há de ser Uma Viagem à Índia. Este ano também vai ser ano de ler e explorar novos autores portugueses (novos para mim, digamos) e tentar riscar da lista alguns livros de leitura 'obrigatória'. Veremos se serão objetivos cumpridos ou furados (como todos os objetivos de ano novo).